Ao longo do mês de
janeiro, iniciei uma série de traduções de poemas da escritora italiana Elisa
Biagini. Residente em Florença, Itália, após uma longa temporada nos EUA, autora de seis livros de
poesia, sua obra já foi traduzida para vários idiomas e publicada em diversos
jornais e revistas na Itália e em outros países. Também atua como tradutora e
artista visual. Seu trabalho pode ser acompanhado no site: www.elisabiagini.it.
Conversando com a autora, por e-mail,
é óbvio que poesia e tradução foram os temas recorrentes, conforme apresentamos
a seguir.
Como teve início o seu envolvimento
com a poesia?
Comecei a escrever poesia quando eu tinha 12 anos... Nunca
pensei em narrativa: o instinto me levou subitamente a esta forma de expressão
mais concisa e intensa. Eu tive um forte desejo de "dar um sentido" a
tudo que me circundava, de compreender. Por um tempo, escrevi "copiando"
Eugenio Montale, Sylvia Plath e R. M. Rilke, e então eu finalmente encontrei
minha voz, com cerca de 20 anos.
E como você definiria a poética de
Elisa Biagini?
Espero que: densa e intensa, necessária.
A poesia é feita de inspiração ou
transpiração? No Brasil, essas expressões são muito utilizadas em relação ao
trabalho com a poesia.
Diria que inspiro realidade e expiro poesia.
Após morar alguns anos nos Estados Unidos,
como essa experiência interferiu em sua poesia?
Foi muito importante porque eu pude conhecer o trabalho de
muitos poetas talentosos (que eu em parte traduzi). Comecei a escrever e confrontar-me
em inglês, e tive a oportunidade de mergulhar na vida cultural de Nova York.
Tudo isso permitiu que minha poesia crescesse muito, nos temas e na forma.
Discute-se muito acerca dos dilemas
da tradução, sobretudo em relação ao texto poético. Em sua opinião, a poesia é
traduzível?
Não há uma resposta para essa pergunta: fazer uma tradução
que seja precisa, correta, que respeite a musicalidade da língua e suas nuances
é impossível (ou pelo menos muito raro, e também depende de que língua a que
língua se proceda). Porém, deve-se tentar sempre, porque a poesia deve ser
compartilhada tanto quanto possível e então, se possível, tentar reproduzi-la
em sua própria língua, pelo menos no conteúdo. Pessoalmente, prefiro as versões
que se aderem o máximo possível ao original, sem muita inventividade da parte
do tradutor.
Então, na tradução de seus poemas, incomodaria o desenvolvimento de uma versão
guiada por uma transcriação do tradutor?
Sendo traduzida, eu tento ser compreensiva com o trabalho do
meu tradutor e ajudar tanto quanto possível. Naturalmente, depende também do idioma-alvo...
o quanto o conheço e o quanto posso segui-lo... Mas sou sempre grata quando
alguém quer traduzir meu trabalho em sua própria língua. Entretanto, é verdade
que traduzir é, em parte, reescrever, com todos os riscos que se seguem.
Em relação à poesia,
como você avalia o mercado editorial italiano?
Na Itália, temos poucas editoras de poesia: as editoras
dizem tanto que poesia não vende, então por que fazer um esforço? Sabemos que
isso não é verdade, porque quando um autor faz um bom trabalho, sempre há
resultados. Nesta era de progressiva barbárie, há cada vez menos atenção à
cultura... muito menos à poesia!
Acredito que vivemos uma situação
parecida no Brasil. Enquanto houver poesia, haverá esperança?
Eu diria que sim... se entendermos a poesia como uma forma
de expressão que faz perguntas e não dá respostas, que nos ajuda a refletir
melhor e a dar um sentido ao mundo.
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Adriano Lobão Aragão é poeta e professor. Mantém o blog Ágora da Taba.
[revista dEsEnrEdoS - ISSN 2175-3903 - ano IV -
número 13 - teresina - piauí - abril maio junho de 2012]